Implante hormonal em homens: quando indicar, como funciona

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No cotidiano da saúde, é comum ouvirmos frases como: “Fui ao médico, fui atendido”. Mas será que esse atendimento foi, de fato, um cuidado? Embora os termos pareçam semelhantes, suas implicações são profundamente distintas. E essa diferença se torna ainda mais importante quando falamos da saúde masculina, especialmente de homens acima dos 40 anos.

Ser atendido é algo pontual, técnico e geralmente focado na queixa imediata. Já ser cuidado envolve uma relação mais profunda, contínua e personalizada, que leva em consideração a pessoa como um todo — corpo, mente, história de vida, hábitos e contexto emocional. Para o homem maduro, muitas vezes criado em uma cultura de negação da vulnerabilidade e da busca tardia por ajuda médica, essa distinção pode ser decisiva para sua saúde e longevidade.

Após os 40 anos, o corpo masculino passa por transformações importantes: há redução gradativa da testosterona, aumento de gordura abdominal, queda de libido, alterações de humor, insônia, cansaço persistente e maior risco de doenças cardiovasculares, metabólicas e prostáticas (Vermeulen et al., 2002). Contudo, esses sintomas frequentemente são negligenciados — tanto pelos próprios homens quanto por profissionais que se limitam a atendimentos rápidos e superficiais.

O cuidado verdadeiro, nesse contexto, exige escuta atenta, investigação profunda e acompanhamento individualizado. Um simples cansaço pode esconder uma apneia do sono, uma queda de libido pode indicar desequilíbrio hormonal, e uma queixa de desânimo pode ser sinal de depressão ou carência de vitaminas.

Estudos mostram que os homens procuram menos os serviços de saúde, realizam menos exames preventivos e têm menor adesão ao tratamento de doenças crônicas (Leone & Fausto, 2015). Isso agrava um cenário onde a mortalidade masculina é mais alta, especialmente por causas evitáveis. A atenção integral e contínua, como propõe a Medicina de Família, é uma estratégia eficaz para mudar esse quadro.

Além disso, a masculinidade tradicional frequentemente impede o homem de admitir fragilidades. Muitos chegam ao consultório apenas quando há dor ou perda funcional evidente. Cuidar desses homens exige quebrar esse ciclo, oferecendo acolhimento, respeito e linguagem acessível. É preciso construir confiança para que o homem se sinta seguro em falar de seu sono, sexualidade, emoções, hábitos alimentares e uso de substâncias.

A diferença entre ser atendido e ser cuidado, portanto, não é apenas semântica. Ela impacta diretamente na prevenção, na qualidade de vida e na longevidade dos homens. Quando o profissional dedica tempo, orienta com clareza, constrói vínculo e propõe um plano de acompanhamento individualizado, está promovendo cuidado verdadeiro.

O cuidado também envolve exames preventivos adequados à faixa etária: avaliação da testosterona total e livre, perfil lipídico, função hepática e renal, densitometria óssea, PSA, eletrocardiograma, hemoglobina glicada, entre outros. Mas mais do que prescrever exames, é preciso interpretar cada dado no contexto de vida do paciente, orientando mudanças possíveis e sustentáveis.

Por fim, ser cuidado é ser visto como alguém que importa. E isso começa com uma postura ativa do profissional: escutar, orientar, acompanhar e respeitar o tempo de cada um. Para os homens acima de 40 anos, isso pode significar a diferença entre envelhecer com vitalidade ou com limitações evitáveis.


Referências

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BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização. Acolhimento nas práticas de produção de saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2010.

LEONE, Lucia; FAUSTO, Marcia C. R. A saúde do homem em questão: buscando novos caminhos para os serviços de atenção primária. Ciência & Saúde Coletiva, v. 20, n. 10, p. 3187–3196, 2015. DOI: https://doi.org/10.1590/1413-812320152010.14432014

MACINKO, James; GUIGLIARDO, Raquel; ALMEIDA, Celia; LIMA-COSTA, Maria Fernanda. Evaluation of the impact of the Family Health Program on infant mortality in Brazil, 1990–2002. Journal of Epidemiology and Community Health, v. 60, n. 1, p. 13–19, 2006. DOI: https://doi.org/10.1136/jech.2005.038323

STARFIELD, Barbara. Primary Care: Balancing Health Needs, Services, and Technology. New York: Oxford University Press, 2002.

VERMEULEN, Alex et al. Estradiol in elderly men. Aging Male, v. 5, n. 2, p. 98–102, 2002. DOI: https://doi.org/10.1080/tam.5.2.98.102

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